sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Montando um planejamento de aulas



Salva salve pessoas, esse aqui é o meu antigo blog Rpg na Escola. Tive outras ideias e mudei bastante coisa por aqui. Irei falar mais diretamente sobre a minha prática cotidiana no meu ambiente de trabalho e tentar manter um canal de comunicação com os pais e responsáveis dos estudantes.
Ano novo, vida nova.. ou não.. mas vamos lá...

Vai começar o ano e o que você precisa ter? Um planejamento das suas aulas. Mesmo que muita gente possa se gabar de dar uma aula excelente sem tê-la planejado (o que acontece bastante), o planejamento é parte da qualificação do processo de ensino-aprendizagem. Você pode ler excelentes manuais sobre como ensinar história, ter ótimas aulas de prática de ensino da história, mas só vai aprender a fazer planos de aulas, depois que tiver uma prática para embasá-lo.
Em um mundo ideal onde todos os professores tem um planejamento de suas aulas, um trabalho interdisciplinar é mais palpável. Pode-se ir além de pacotes de provas e temas transversais. Um planejamento de qualidade e integrado ao projeto político pedagógico da escola é capaz de transformar as vivências escolares dos atores da escola. É preciso tomar cuidado com a noção que depois de ter a prática, não se precisa mais planejar.
A proposta que apresento a seguir é de aulas para o 8o ano do ensino fundamental. O livro didático com que trabalho é história temática da Conceição Cabrini e outros autores. Também trabalho muito com filmes, produção de textos e leituras.
O eixo-temático proposto para o 8o ano é Terra e Propriedade. Embora o livro seja excelente, ele ainda está muito preso a uma linearidade etapista e sequencial da história. Percebi isso durante o ano passado e esse ano quebrei a sequência do trabalho. Resolvi inverter a ordem do discurso no intuito de tentar algo mais arqueológico (inspirado em Foucault) na discussão desses conceitos e na historicização desses processos. Mais do que simplesmente inverter a ordem dos elementos, meu interesse é por explorar as camadas, os estratos de possibilidades que foram se acumulando ao longo da construção desse discurso, dessa longa história da civilização ocidental. Perceber mais do que a evolução do Estado, mais do que o progresso triunfante da propriedade capitalista. Meu interesse é por como se construiu essa ideia de progresso, esse modelo de triunfo quase inquestionável.
No primeiro bimestre, inicio com a discussão sobre o conceito de história. Passamos a conceitos de posse, propriedade e à discussão da questão da terra na história do Brasil. A lei de terras de 1850, a escravidãoo movimento dos sem terra e outros elementos são problematizados. Depois é a vez de explorar outras geografias e períodos como a reforma agrária mexicana, a propriedade da terra na África subsaariana pré-colonial e na Roma Antiga. Integrado a isso, trabalho a leitura do livro Morte e Vida Severina de João Cabral de Melo Neto, cuja leitura é iniciada em sala de maneira expositiva, passando à leitura coletiva e à leitura individual. Além disso, há a  exibição de partes selecionadas de vários filmes como: O Labirinto do Fauno de Guillermo Del Toro; Cabra Marcado pra Morrer de Eduardo Coutinho e Spartacus de Stanley Kubric. Também faço uso de músicas como Banditismo por uma questão de classe Esse trabalho é inspirado na proposta de Marcos A. Silva e Selva Guimarães Fonseca no capítulo intitulado Imaginário e Representações no Ensino de História do livro Ensinar História no Século XXI: Em Busca do Tempo Perdido . Tendo trabalhado a proposta no ano passado, já proponho aqui desdobramentos para as ideias dos autores.
No 2o bimestre, ao invés de seguir com os autores do livro didático que passam da desestruturação do Império Romano para o processo de formação do feudalismo e dai para o longo processo de ascensão da burguesia que culmina na Revolução Francesa ao fim do 3o bimestre, minha proposta é iniciar pela Revolução Francesa e buscar o próprio questionamento desse progresso luminoso. Talvez seja muito ambicioso o que proponho, mas acredito que essa arqueologia permita uma compreensão mais critica pelos estudantes. Ao invés de levá-los a entender a formação da civilização ocidental pelos conflitos de forças econômicas e grupos sociais por propriedades, questionar como nossas formas de pensar a propriedade foram se afirmando.
Também estou atento ao fato de que não estou eliminando o etapismo progressista de meus horizontes de expectativa, pois continuo trabalhando com várias vedetes da historiografia como Revolução Francesa, Revolução Industrial, Reforma Protestante, Iluminismo, entre tantos.Uma vez mais repito, no entanto, que meu objetivo não é exaltar a inevitabilidade de um progresso, mas as condições de possibilidade de sua afirmação.  Com isso, o feudalismo e o medievo passam para o 3o bimestre nesse processo. Há da minha parte o cuidado de remeter e lembrar da linearidade tradicional, mas contrapondo-a a análise que escava as camadas. Já que não nos é possível apreender o tempo, não é preciso nos prender a uma ideia de narrativa da temporalidade que é criada por nós e não pelo próprio tempo.
Ao longo desses dois bimestres também são trabalhados diversos filmes (de Excalibur de John Boorman até Os 7 Samurais de Akira Kurosawa), todos tomados como imaginários localizados daquilo que já não é, o passado. Os livros trabalhados são Utopia de Thomas More e o texto Dez Modos de Sonhar a Idade Média de Umberto Eco. Que também perpassam a discussão da lutas de poder pelas terra e pelos imaginários.
Com o 4o bimestre, a ideia é passar para o processo de independência brasileiro e a análise da formação não especialmente do Estado brasileiro, mas da nação em terras tupiniquins. Processo esse enredado pela questão da terra e da propriedade. Aqui temos novamente o uso de vários filmes que vão desde Carlota Joaquina de Carla Camurati até Vidas Secas de Nélson Pereira dos Santos. O livro trabalhado é Os Sertões de Euclides da Cunha.
Bom aí já temos o esqueleto da proposta.. o resto é prática e disposição... na próxima postagem vou falar sobre meu planejamento do 6o ano (que já é bem mais consolidado). Com o início das aulas vou voltando ao planejamento do 6o ano.