Eu tenho uma visão de que ensinar é muito mais do que transmitir conteúdos. É ensinar como e não o que. No mundo em que vivemos, o problema não é não ter informação, o problema é que há informação demais. Ensinar história, por exemplo, precisa ser ensinar a pensar historicamente. Não é simplesmente ensinar conteúdos históricos que visam uma totalidade imaginária e imaginada. A epopeia da nação, da humanidade ou de qualquer outro desses sujeitos famosos é só mais uma representação de tudo aquilo que já não somos, mesmo que apenas seja nós mesmos. Complicado né? Nem tanto. O passado passou. Só nos chega como uma re-encenação no presente. Um esforço crítico (ou nada crítico) domestica esse passado segundo as demandas do presente e o discurso toma forma. Assim os historiadores contam suas histórias. Com fontes, citações e editores.
Minha prática escolar de ensinar história tenta convidar meus educandos (todos de 10 anos ou mais), a entender o discurso historiográfico, pois entender história é isso. Isso não significa discutir Foucault com meninos de 11 anos, mas aplicar as loucuras que ele soltou na minha cabeça. As relações de poder, as palavras e as coisas, entre outros. Enfim, minha ideia é ensinar a pensar historicamente e não ensinar História.
Dito isso, há o maior dos problemas. Esse processo só se dá se o educando quer, se há interesse, se ele se sente provocado, enfim, é uma via de mão-dupla. Digo isso, porque existem incontáveis fatores que podem levar ao desinteresse do aluno, desde a falta de uma boa noite de sono até violência familiar ou o amor.
Lanço, então, minha questão: no ensino dito superior esta é uma tarefa árdua, pois os adultos estão convencidos de que já sabem de muitas coisas, quando, na verdade, não sabem de nada. Para o processo de ensino-aprendizagem, isso é um veneno terrível.
Nessa turma de História Social e Política do Brasil (HSPB) faço meu estágio supervisionado com a minha orientadora. Sou orientando da professora Diva desde a graduação (e fã dela), tendo muito em mim da prática e do exemplo dela. A dificuldade em fazer com que os 45 alunos da turma se deixem envolver pelas possibilidades do curso (3a e 5a de 19 às 21h) é herculea pra dizer o mínimo. Cerca de 6 estudantes participam ativamente das aulas, enquanto que um terço não tem nem o compromisso mínimo com o curso.
Com os jovens, podemos recorrer aos responsáveis (que muitas vezes não são tão responsáveis assim), além de poder provocar o próprio educando. Com os adultos, no entanto, eu percebo uma saturação inerte de quem simplesmente quer só estar aí. O que me desestimula a gastar energia com o sujeito.
Eu poderia dizer que acredito numa pedagogia Pai Mei, em que socraticamente você é reduzido a perceber que não sabe de nada. Tendo essa humildade, vai poder saber tudo que quiser, muito embora o caminho seja árduo e nunca acabe. Daí que sabendo dessa razão, você vai se deliciar com a loucura. Não há um só caminho, até porque cada caminho é um caminho, mas caminhos há. Até porque, eu mesmo, não sei de nada.
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