sábado, 10 de maio de 2014

Ensino Superior?


Estou tendo a minha primeira experiência como professor do chamado ensino superior. Nunca escondi de ninguém que, pra mim, quanto mais novo o educando, melhor. No meu primeiro ano de escola, trabalhei no turno da noite com ensino médio. Foi um ano difícil e eu sentia uma certa frustração do "tarde demais". Via certas carências e demandas que eu não sabia como operacionalizar, simplesmente porque ensino noturno, em uma escola pública, no Recanto das Emas já no primeiro ano, não são coisas que você saia resolvendo de primeira. Foi uma conquista conseguir que a minha prova fosse dissertativa. Tenho, portanto, preferência pelas crianças em relação aos adolescentes (e aos adultos) por suas potencialidades.
Eu tenho uma visão de que ensinar é muito mais do que transmitir conteúdos. É ensinar como e não o que. No mundo em que vivemos, o problema não é não ter informação, o problema é que há informação demais. Ensinar história, por exemplo, precisa ser ensinar a pensar historicamente. Não é simplesmente ensinar conteúdos históricos que visam uma totalidade imaginária e imaginada. A epopeia da nação, da humanidade ou de qualquer outro desses sujeitos famosos é só mais uma representação de tudo aquilo que já não somos, mesmo que apenas seja nós mesmos. Complicado né? Nem tanto. O passado passou. Só nos chega como uma re-encenação no presente. Um esforço crítico (ou nada crítico) domestica esse passado segundo as demandas do presente e o discurso toma forma. Assim os historiadores contam suas histórias. Com fontes, citações e editores.
Minha prática escolar de ensinar história tenta convidar meus educandos (todos de 10 anos ou mais), a entender o discurso historiográfico, pois entender história é isso. Isso não significa discutir Foucault com meninos de 11 anos, mas aplicar as loucuras que ele soltou na minha cabeça. As relações de poder, as palavras e as coisas, entre outros. Enfim, minha ideia é ensinar a pensar historicamente e não ensinar História.
Dito isso, há o maior dos problemas. Esse processo só se dá se o educando quer, se há interesse, se ele se sente provocado, enfim, é uma via de mão-dupla. Digo isso, porque existem incontáveis fatores que podem levar ao desinteresse do aluno, desde a falta de uma boa noite de sono até violência familiar ou o amor. 
Lanço, então, minha questão: no ensino dito superior esta é uma tarefa árdua, pois os adultos estão convencidos de que já sabem de muitas coisas, quando, na verdade, não sabem de nada. Para o processo de ensino-aprendizagem, isso é um veneno terrível. 
Nessa turma de História Social e Política do Brasil (HSPB) faço meu estágio supervisionado com a minha orientadora. Sou orientando da professora Diva desde a graduação (e fã dela), tendo muito em mim da prática e do exemplo dela. A dificuldade em fazer com que os 45 alunos da turma se deixem envolver pelas possibilidades do curso (3a e 5a de 19 às 21h) é herculea pra dizer o mínimo. Cerca de 6 estudantes participam ativamente das aulas, enquanto que um terço não tem nem o compromisso mínimo com o curso.
Com os jovens, podemos recorrer aos responsáveis (que muitas vezes não são tão responsáveis assim), além de poder provocar o próprio educando. Com os adultos, no entanto, eu percebo uma saturação inerte de quem simplesmente quer só estar aí. O que me desestimula a gastar energia com o sujeito.
Eu poderia dizer que acredito numa pedagogia Pai Mei, em que socraticamente você é reduzido a perceber que não sabe de nada. Tendo essa humildade, vai poder saber tudo que quiser, muito embora o caminho seja árduo e nunca acabe. Daí que sabendo dessa razão, você vai se deliciar com a loucura. Não há um só caminho, até porque cada caminho é um caminho, mas caminhos há. Até porque, eu mesmo, não sei de nada.

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