O livro para o 6º ano tem uma capa laranja e branca
onde vemos representado um elmo grego em referência à Grécia Antiga. O estilo é
simples, sem grandes atrativos visuais. Ao longo de 48 páginas iniciais, há uma
longa apresentação da coleção informando sua adesão à BNCC.
Ambos os autores são identificados como bacharéis e
licenciados em história pela Universidade Estadual de Londrina, também
especialistas em História pela mesma instituição, além de possuírem
experiências na rede pública de ensino, sendo que Chiba também inclui
experiências na rede particular e no nível superior.
A apresentação inicia bem atentando para "cara
aluna, caro aluno", mas logo em segida adere ao modelo tradicional de
aprender com o passado para guiar o futuro. Ainda assim, é interessante que já
indica a questão de mudanças e permanências.
A estrutura das unidades e capítulo é abordada a
seguir. O livro está dividido em 8 unidades e 20 capítulos (255 páginas). Como
é de praxe já há alguns anos, é apresentada uma grande imagem relacionada ao
tema da unidade, que vai ser problematizada a partir de algumas questões
previamente colocadas A seguir são apresentados boxes informativos, que
relacionam questões presentes ao conteúdo a ser tratado. Também existe a seção
Para investigar, que guia o estudante através de um roteiro para a análise de
alguns documentos históricos. Existe também o Boxe complementar, que
"complementam o tema estudado" segundo os autores. Ao fim, como
sempre, estão presentes as atividades, que apresenta questões diretivas para
uma autoanálise pelos educandos, o que culmina em duas subseções: Ampliando
fronteiras, que busca instigar debates mais transversais sobre os assuntos, e
Aprensa mais, com orientações de leituras outras relacionadas.
Em sintonia com o conteudismo enciclopedista da
BNCC, o livro busca conduzir as estudantes por um ano massacrante e exaustivo
de visões panorâmicas das cavernas à crise da chamada Idade Média européia.
Essa grande ode ao quadripartismo europeu tece a formação da civilização
ocidental e do capitalismo, ainda que atendendo às demandas por visibilidade de
alguns outros sujeitos históricos. Mas resumindo, aquela velha história tá toda
aqui, bem mastigadinha. Das 8 unidades, apenas uma (com dois capítulos) é
destinada à discussão de conceitos históricos, com a mínima ênfase possível em
questões metodológicas.
A 1ª unidade chama-se Para Estudar História. Está
dividida em 2 capítulos: História e Vida; O Tempo. De início, há uma foto de 2017 do Chafariz do
Mestre Valentim, construído em 1789, localizado na praça XV no Rio de Janeiro,
destacando sua localização em meio a prédios espelhados e modernos. Nas 3
perguntas colocadas são destacadas questões da convivência com a história e o
patrimônio das cidades. Dessa forma, passamos ao início do primeiro capítulo
que destaca a "história vivida" por meio de uma pequena autobiografia
de Fred Lane, que também embasa a apresentação da memória como base da história
vivida, que por sua vez informa sobre a história da cidade. Na sequência, à
história vivida, é contraposta a História como "ciência que estuda as
ações dos seres humanos, ao longo do tempo, desde o seu surgimento, há milhares
de anos até os dias atuais" (p. 15). No mesmo parágrafo, dois outros
conceitos são apresentados: cultura e sociedade, que são explicados em dois
pequenos parágrafos a seguir e exemplificados com as imagens de um prato de
arroz com feijão e uma foto de duas mulheres (mãe e filha) do povo Mebêngôkre
fazendo pintura corporal em São Félix do Xingu (PA), 2016.
Depois disso, a História é valorizada como
instrumento de promoção da paz e de valorização à diferença. A diversidade
cultural das sociedades é destacada como traço inerente da humanidade mais do
que um direito, mas à uma associação direta entre conhecimento (científico da
História no caso) e tolerância, o que é exemplificado por meio de três imagens
de cumprimentos entre pessoas na Nova Zelândia, Japão e Índia. O assunto
prossegue através do par empatia e respeito, que é tratado como fundamental na
relação com as pessoas mais velhas. Essa dimensão geracional busca valorizar as
experiências dos antepassados diretos e é ilustrada com uma imagem de mulheres
indígenas contando histórias para crianças de sua tribo.
Passamos para a apresentação do conceito de sujeitos
históricos no subtítulo Ação humana e conhecimento histórico, que marca a
importância da participação e envolvimento das pessoas no fazer histórico. Isso
vem acompanhado de uma imagem de manifestação estudantil em Porto Alegre, 2018.
Na mesma página, tal questão é relacionada Às fontes históricas, definidas como
"vestígios que trazem informações sobre acontecimentos do passado".
Ainda que a noção de vestígios seja problemática (prefiro documentos), é
bastante valorizada a dimensão construída (falta a reconstruída) do
conhecimento histórico. Nas duas páginas seguintes, as fontes históricas são
abordadas e exemplificadas com textos e imagens em um par e dois subpares:
fontes materiais (escritas e não escritas) e imateriais (práticas culturais e
modos de fazer algo).
Finalmente, o capítulo trata de 4 outras "áreas
do conhecimento" que contribuem para o trabalho de historiadores (sempre
no masculino): geografia, filosofia, arqueologia e antropologia.
Os exercícios ao fim do capítulo são 9 perguntas. As
5 primeiras buscam organizar com um caráter diretivo as informações
apresentadas. As 4 últimas da área Conectando ideias tratam da análise de uma
imagem, um texto autobiográfico e um trio de fontes formado por um par de
moedas, um par de chuteiras e uma cartilha da infância de 1885.
O capítulo 2 sobre o tempo é mais enxuto, mas também
muito diretivo e pouco problematizador. De imediato é apresentado o tempo
cronológico e suas representações através de calendários e relógios. Há pouco
espaço para discussão da observação dos corpos celestes, da pluralidade de
possibilidades de perceber o tempo da natureza e da sua relação com esse tempo
cronológico. O tempo histórico, que vem a seguir, embora definido pelo par
mudanças/permanências, está longe de contar com subsídios suficientes para que
educandas e educandos percebam a relação dessas dimensões com suas experiências
cotidianas. Isso logo é deixado para trás para a apresentação das noções de
linha do tempo e do quadripartismo europeizante, que embora tenha suas
limitações apontadas, segue sendo aplicado, inclusive na limitante ideia de
"pré-história", que "costuma ser empregado, mas é
criticado" (p. 30).
Nas atividades desse capítulo, temos 4 perguntas
diretivas e duas na seção Conectando ideias que propõem a análise de um relógio
solar e de duas imagens de trabalho na agricultura: uma do Egito Antigo, outra
de Goiás em 2016. Por fim, um roteiro de 5 perguntas da seção Verificando rota
busca sintetizar as ideias da unidade.
A seção Ampliando fronteiras ao final da unidade
trata das constelações indígenas, indicando a importância da observação dos
astros para diferentes sociedades, o que supre um pouco a lacuna deixada no
início do capítulo 2, mas não deixa de transformar um tema central em um
apêndice.
A 2ª unidade mergulha de cabeça no conteudismo
valorizado pela BNCC e por muitas práticas docentes. Seguindo a mesma estrutura
anterior, os capítulos seguem diretivos e sintéticos, pulverizando muita
informação com pouca problematização. Logo no título do capítulo 3, A origem
dos seres humanos, essa ideia tão cara ao fazer historiográfico (não só
escolar) de busca pelas origens é explicitado. Sendo assim, 6 ancestrais do ser
humano moderno são apresentados através de cartas, em um modelo semelhantes a
jogos de cartas de uso comum dos jovens, o que dá um ar dinÂmico, mas na
verdade apenas reforção a velha ideia de uma linha evolutiva do ser humano.
Apesar de um quadro sobre Darwin e a teoria evolucionista, falta aqui a noção
de diversidade e das múltiplas ramificações no processo evolutivo (não só
humano). Na sequência, o conceito de mitos de origem é apresentado,
exemplificado pelo mito de criação do seres humanos do povo Kamayurá do norte
do Brasil. Da forma como é apresentado, esse surge apenas como um contraponto
ao saber científico. Não há, por exemplo, a problematização da relação entre
esses saberes ou mesmo das questões éticas envolvidas nas formas filosóficas e
religiosas de perceber a construção de nossa humanidade. Rapidamente, segue-se
para a tradicional sequência paleolítico, neolítico (que é colocada sob o guarda-chuva
"a história antes da escrita", finalmente e corajosamente rompendo
com a débil noção de "pré-história"). Se os aspectos mais destacados
desse recorte "lítico" são apontados de forma mínima, valorizo a bela
imagem da cidade de Çatal Huyuk (atual Turquia), que ilustra a representação do
surgimento das primeiras cidades. Isso, porém, abruptamente, é deixado de lado
em favor das rotas de migração de hominídeos que leva ao povoamento da América,
referendada pelo tradicionalíssimo mapa das 4 possíveis rotas. Mais uma vez,
Luzia é convidada da cinzas do Museu Nacional para ilustrar as tensões na
construção desse conhecimento.
As atividades são compostas de 6 perguntas: 3
diretivas e duas interpretativas. A primeira trata de um texto sobre a
importância dos mitos. A segunda analisa uma charge famosa que ridiculariza
Darwin como um macaco. A terceira explora uma reportagem sobre a luta de Niede
Guidon pela manutenção do Parque Nacional da Serra da Capivara.
Sem romper com o etapismo do conteúdo, os dois capítulos
seguintes alocam as culturas indígenas brasileiras e os povos Maia, Asteca e
Inca na linearidade composta para atender a legislação. Embora tragam material
interessante para a análise (como na bela seção Para investigar, que aborda a
cerâmica Marajoara), esses povos não são pensados em suas próprias dinâmicas,
mas nos termos paleolítico, neolítico, assim como tidas por
"precursoras" da formação social que estaria por vir. Suas dinâmicas
internas são achatadas para caberem no molde simplificante que deseja
enquadrá-las para logo dar lugar à cultura européia vitoriosa que chegará. Ao
final, há uma boa atividade da seção Ampliando fronteiras sobre as
possibilidades de trabalho no período neolítico, ainda que também dentro de
estruturas tradicionais de representação dos atividades masculinas e femininas.
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