sábado, 9 de junho de 2018

Em defesa do 6o ano ou Pela subversão da ordem

Salve salve pessoas, nesse ano de retorno à sala de aula, estou tendo menos disponibilidade para realizar postagens no blog. Obviamente, a dinâmica com dois filhos pequenos ajuda bastante, mas o próprio processo de readaptação à escola tem sido trabalhoso e complexo.
Pretendo, ainda essa semana, realizar uma postagem com meus diagnósticos das turmas e das educandas até aqui. Meu objetivo aqui, bem rapidinho é só DEFENDER O 6º ANO.
Acho que todo mundo viu circular no Facebook a frase do Leandro Karnal em letras garrafais:


"Quem já deu aula pra sexto ano é capaz de fazer qualquer coisa no planeta terra."

Leandro Karnal"

Muita gente destacou como é difícil dar aula pro 6º ano. Vi todo o tipo de comentário sobre o quão cansativos são as estudantes nessa faixa etária. Alguns conhecidos, professoras e professores de história destacaram como é incômoda a relação com o conteúdo oficial a ser ministrado.
Quem me conhece sabe que sou um entusiasta do 6º ano. Tenho 10 turmas de 6° ano atualmente e, se dependesse apenas de mim, seria assim todo ano.
Valorizo algumas coisas em particular:
- As alunas e alunos com 10 e 11 anos ainda são crianças, ainda sonham e não estão tão conformados aos enquadramentos disciplinares e disciplinarizantes da escola;
- A transição do 5º para o 6º ano, na minha opinião, é a transição mais brusca na vida escolar das educandas;
- É o espaço mais valorizado no currículo oficial para pensar a história enquanto instrumento de análise, campo do conhecimento ou forma de se relacionar com o tempo. Embora eu entenda que esse é um processo contínuo de diálogo, sei que o 6º ano é espaço e tempo para tecer pontos nodais para as capacidades interpretativas e críticas de quem estuda.

Dito isso, gostaria de propor às historiadoras e historiadores avessos às dinâmicas que envolvem as crianças que estudam no 6º ano ou aos conteúdos oficiais que são propostos para esse segmento do ensino fundamental apenas uma coisa: SUBVERTAM A ORDEM!!!

- Amplie o espaço em cada aula e no planejamento para a discussão de conceitos e e concepções (em especial os de história, tempo, culturas, diversidade). Acredite, as crianças trazem concepções espontâneas, baseadas em suas experiências cotidianas, que enriquecem e ampliam quaisquer que sejam os conceitos científicos que temos a apresentar;

- Exclua os conteúdos que você não julga pertinente, transforme os que você não entende como devidamente abordados (meu exemplo sempre é que devemos eliminar a noção de pré-história, que por mais que seja criticada e relativizada, segue mantida);

- Trate das histórias de vida, histórias familiares, histórias locais. Dialogue com a memória. Tudo isso permite às pessoas se perceberem como sujeitos históricos, como cidadãs e cidadãos.

- Aprenda com as crianças. Escute o que elas tem a dizer. Valorize seus entendimentos. Avalie de forma plural. Se divirta. Mostre que seu conhecimento é limitado. Sejamos curiosos, inquietos.

- Faça teatro, faça passeios, faça pesquisa, faça leitura de livros, FAÇA. Para de só passar temas clássicos do etapismo evolutivo da civilização ocidental para essa molecada. Eles podem sim fazer pesquisa, familiarizar-se com autonomia e desenvolver os próprios interesses.

POR FIM, O PROBLEMA NÃO É O 6º ANO OU AS CRIANÇAS, MAS A SUA VELHA OPINIÃO FORMADA SOBRE TUDO...

P.s - Eu não curto o Karnal. Acho ele um desses falsos bons samaritanos que transformam tudo em auto-ajuda pedante.
P.s 2 - Eu agradeço à Cecília e ao Rafael, colegas da pós, que meio sem querer me ajudaram a escrever isso aqui.
P.s 3 - Como falei pra Cecília, sobre esse lance da minha aversão à tal da pré-história:"Eu vou começar esse conteúdo semana q vem, Cecília. Vou trabalhar uma biografia do Darwin, discutir a ideia de evolução, passar a biografia de uma australopitecus sediba, discutir a ideia de humanidade e passar o filme A Guerra do Fogo. Quando eu discuti a divisão do tempo e quadripartismo com eles no fim do primeiro bimestre, escolhemos tirar o nome pre história, paleolítico e neolítico... a gente trabalha com idade das cavernas/ idade da agricultura/ idade da escrita/ idade média... moderna... contemporânea...