segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Livros didáticos de História 2019-2020

Salve pessoas, sei que essa análise chega meio atrasada e é deveras simplista, mas deve servir como uma pequena análise preliminar orientadora para escolha de com qual livro trabalhar, caso haja opção. Conforme for completando as análises mais detalhadas, basta clicar no nome das coleções para ir para a postagem respectiva.
Importante destacar que meu foco concentra-se nas edições de 6º ano.

Teláris, História - Ática - Cláudio e José Bruno Vicentino
Coleção tradicional, conteudista, boa diagramação em estilo clássico, com boas atividades diversificadas.










Historiar - Saraiva - Gilberto Cotrim e Jaime Rodrigues (antiga Saber e Fazer História)
Coleção ancestral, eu diria neolítica até. Conteudista com diagramação pobre, com atividades medianas pouco diversificadas.









Inspire História - FTD - Reinaldo Seriacopi e Gislaine Azevedo
Coleção que busca parecer inovadora, mas segue tradicional. Conteudista, diagramação simples, atividades medianas e muito diretivas.




Vontade de Saber - Quinteto - Adriana Dia, Keila Grinberg e Marco Pellegrini.
Coleção tradicional, conteudista, diagramação simples. Atividades simples e diretivas.



Geração Alpha, História - SM - Débora Motooka
Coleção totalmente tradicional. Conteudista, diagramação pobre, atividades simples e diretivas.









História, Sociedade e Cidadania - FTD - Alfredo Boulos
Outra coleção muito tradicional e recorrente. Embora mais seletivo nos conteúdos, diagramação simples. Atividades simples e diretivas.









Araribá Mais História - Moderna - Ana Cláudia Fernandes
Coleção tradicional, conteudista, boa diagramação clássica, com boas atividades diversificadas.









História, Escola e Democracia - Moderna - Flávio de Campos, Regina Claro e Miriam Dolhnikoff
Coleção que busca parecer inovadora, mas é tradicional. Mais seletivo no conteúdo, boa diagramação clássica, boas atividades diversificadas.








Convergências História - SM - Caroline Minorelli e Charles Chiba
Coleção que busca parecer inovadora, mas é tradicional. Conteudista, boa diagramação, boas atividades diversificadas.









História.doc - Saraiva - Ronaldo Vainfas, Jorge Ferreira, Sheila Faria, Daniela Calainho
Coleção que busca parecer inovadora, mas é tradicional. Conteudista, boa diagramação clássica. Atividades simples e diretivas.








Estudar História, das Origens do Homem à Era Digital - Moderna - Patrícia Braick e Anna Barreto
Coleção que busca parecer inovadora, mas é tradicional. Conteudista, boa diagramação, atividades simples e diretivas.

Convergências - História de Caroline Minorelli e Charles Chiba, editora SM



O livro para o 6º ano tem uma capa laranja e branca onde vemos representado um elmo grego em referência à Grécia Antiga. O estilo é simples, sem grandes atrativos visuais. Ao longo de 48 páginas iniciais, há uma longa apresentação da coleção informando sua adesão à BNCC.
Ambos os autores são identificados como bacharéis e licenciados em história pela Universidade Estadual de Londrina, também especialistas em História pela mesma instituição, além de possuírem experiências na rede pública de ensino, sendo que Chiba também inclui experiências na rede particular e no nível superior.
A apresentação inicia bem atentando para "cara aluna, caro aluno", mas logo em segida adere ao modelo tradicional de aprender com o passado para guiar o futuro. Ainda assim, é interessante que já indica a questão de mudanças e permanências.
A estrutura das unidades e capítulo é abordada a seguir. O livro está dividido em 8 unidades e 20 capítulos (255 páginas). Como é de praxe já há alguns anos, é apresentada uma grande imagem relacionada ao tema da unidade, que vai ser problematizada a partir de algumas questões previamente colocadas A seguir são apresentados boxes informativos, que relacionam questões presentes ao conteúdo a ser tratado. Também existe a seção Para investigar, que guia o estudante através de um roteiro para a análise de alguns documentos históricos. Existe também o Boxe complementar, que "complementam o tema estudado" segundo os autores. Ao fim, como sempre, estão presentes as atividades, que apresenta questões diretivas para uma autoanálise pelos educandos, o que culmina em duas subseções: Ampliando fronteiras, que busca instigar debates mais transversais sobre os assuntos, e Aprensa mais, com orientações de leituras outras relacionadas.
Em sintonia com o conteudismo enciclopedista da BNCC, o livro busca conduzir as estudantes por um ano massacrante e exaustivo de visões panorâmicas das cavernas à crise da chamada Idade Média européia. Essa grande ode ao quadripartismo europeu tece a formação da civilização ocidental e do capitalismo, ainda que atendendo às demandas por visibilidade de alguns outros sujeitos históricos. Mas resumindo, aquela velha história tá toda aqui, bem mastigadinha. Das 8 unidades, apenas uma (com dois capítulos) é destinada à discussão de conceitos históricos, com a mínima ênfase possível em questões metodológicas.
A 1ª unidade chama-se Para Estudar História. Está dividida em 2 capítulos: História e Vida; O Tempo.  De início, há uma foto de 2017 do Chafariz do Mestre Valentim, construído em 1789, localizado na praça XV no Rio de Janeiro, destacando sua localização em meio a prédios espelhados e modernos. Nas 3 perguntas colocadas são destacadas questões da convivência com a história e o patrimônio das cidades. Dessa forma, passamos ao início do primeiro capítulo que destaca a "história vivida" por meio de uma pequena autobiografia de Fred Lane, que também embasa a apresentação da memória como base da história vivida, que por sua vez informa sobre a história da cidade. Na sequência, à história vivida, é contraposta a História como "ciência que estuda as ações dos seres humanos, ao longo do tempo, desde o seu surgimento, há milhares de anos até os dias atuais" (p. 15). No mesmo parágrafo, dois outros conceitos são apresentados: cultura e sociedade, que são explicados em dois pequenos parágrafos a seguir e exemplificados com as imagens de um prato de arroz com feijão e uma foto de duas mulheres (mãe e filha) do povo Mebêngôkre fazendo pintura corporal em São Félix do Xingu (PA), 2016.
Depois disso, a História é valorizada como instrumento de promoção da paz e de valorização à diferença. A diversidade cultural das sociedades é destacada como traço inerente da humanidade mais do que um direito, mas à uma associação direta entre conhecimento (científico da História no caso) e tolerância, o que é exemplificado por meio de três imagens de cumprimentos entre pessoas na Nova Zelândia, Japão e Índia. O assunto prossegue através do par empatia e respeito, que é tratado como fundamental na relação com as pessoas mais velhas. Essa dimensão geracional busca valorizar as experiências dos antepassados diretos e é ilustrada com uma imagem de mulheres indígenas contando histórias para crianças de sua tribo.
Passamos para a apresentação do conceito de sujeitos históricos no subtítulo Ação humana e conhecimento histórico, que marca a importância da participação e envolvimento das pessoas no fazer histórico. Isso vem acompanhado de uma imagem de manifestação estudantil em Porto Alegre, 2018. Na mesma página, tal questão é relacionada Às fontes históricas, definidas como "vestígios que trazem informações sobre acontecimentos do passado". Ainda que a noção de vestígios seja problemática (prefiro documentos), é bastante valorizada a dimensão construída (falta a reconstruída) do conhecimento histórico. Nas duas páginas seguintes, as fontes históricas são abordadas e exemplificadas com textos e imagens em um par e dois subpares: fontes materiais (escritas e não escritas) e imateriais (práticas culturais e modos de fazer algo).
Finalmente, o capítulo trata de 4 outras "áreas do conhecimento" que contribuem para o trabalho de historiadores (sempre no masculino): geografia, filosofia, arqueologia e antropologia.
Os exercícios ao fim do capítulo são 9 perguntas. As 5 primeiras buscam organizar com um caráter diretivo as informações apresentadas. As 4 últimas da área Conectando ideias tratam da análise de uma imagem, um texto autobiográfico e um trio de fontes formado por um par de moedas, um par de chuteiras e uma cartilha da infância de 1885.
O capítulo 2 sobre o tempo é mais enxuto, mas também muito diretivo e pouco problematizador. De imediato é apresentado o tempo cronológico e suas representações através de calendários e relógios. Há pouco espaço para discussão da observação dos corpos celestes, da pluralidade de possibilidades de perceber o tempo da natureza e da sua relação com esse tempo cronológico. O tempo histórico, que vem a seguir, embora definido pelo par mudanças/permanências, está longe de contar com subsídios suficientes para que educandas e educandos percebam a relação dessas dimensões com suas experiências cotidianas. Isso logo é deixado para trás para a apresentação das noções de linha do tempo e do quadripartismo europeizante, que embora tenha suas limitações apontadas, segue sendo aplicado, inclusive na limitante ideia de "pré-história", que "costuma ser empregado, mas é criticado" (p. 30).
Nas atividades desse capítulo, temos 4 perguntas diretivas e duas na seção Conectando ideias que propõem a análise de um relógio solar e de duas imagens de trabalho na agricultura: uma do Egito Antigo, outra de Goiás em 2016. Por fim, um roteiro de 5 perguntas da seção Verificando rota busca sintetizar as ideias da unidade.
A seção Ampliando fronteiras ao final da unidade trata das constelações indígenas, indicando a importância da observação dos astros para diferentes sociedades, o que supre um pouco a lacuna deixada no início do capítulo 2, mas não deixa de transformar um tema central em um apêndice.
A 2ª unidade mergulha de cabeça no conteudismo valorizado pela BNCC e por muitas práticas docentes. Seguindo a mesma estrutura anterior, os capítulos seguem diretivos e sintéticos, pulverizando muita informação com pouca problematização. Logo no título do capítulo 3, A origem dos seres humanos, essa ideia tão cara ao fazer historiográfico (não só escolar) de busca pelas origens é explicitado. Sendo assim, 6 ancestrais do ser humano moderno são apresentados através de cartas, em um modelo semelhantes a jogos de cartas de uso comum dos jovens, o que dá um ar dinÂmico, mas na verdade apenas reforção a velha ideia de uma linha evolutiva do ser humano. Apesar de um quadro sobre Darwin e a teoria evolucionista, falta aqui a noção de diversidade e das múltiplas ramificações no processo evolutivo (não só humano). Na sequência, o conceito de mitos de origem é apresentado, exemplificado pelo mito de criação do seres humanos do povo Kamayurá do norte do Brasil. Da forma como é apresentado, esse surge apenas como um contraponto ao saber científico. Não há, por exemplo, a problematização da relação entre esses saberes ou mesmo das questões éticas envolvidas nas formas filosóficas e religiosas de perceber a construção de nossa humanidade. Rapidamente, segue-se para a tradicional sequência paleolítico, neolítico (que é colocada sob o guarda-chuva "a história antes da escrita", finalmente e corajosamente rompendo com a débil noção de "pré-história"). Se os aspectos mais destacados desse recorte "lítico" são apontados de forma mínima, valorizo a bela imagem da cidade de Çatal Huyuk (atual Turquia), que ilustra a representação do surgimento das primeiras cidades. Isso, porém, abruptamente, é deixado de lado em favor das rotas de migração de hominídeos que leva ao povoamento da América, referendada pelo tradicionalíssimo mapa das 4 possíveis rotas. Mais uma vez, Luzia é convidada da cinzas do Museu Nacional para ilustrar as tensões na construção desse conhecimento.
As atividades são compostas de 6 perguntas: 3 diretivas e duas interpretativas. A primeira trata de um texto sobre a importância dos mitos. A segunda analisa uma charge famosa que ridiculariza Darwin como um macaco. A terceira explora uma reportagem sobre a luta de Niede Guidon pela manutenção do Parque Nacional da Serra da Capivara.
Sem romper com o etapismo do conteúdo, os dois capítulos seguintes alocam as culturas indígenas brasileiras e os povos Maia, Asteca e Inca na linearidade composta para atender a legislação. Embora tragam material interessante para a análise (como na bela seção Para investigar, que aborda a cerâmica Marajoara), esses povos não são pensados em suas próprias dinâmicas, mas nos termos paleolítico, neolítico, assim como tidas por "precursoras" da formação social que estaria por vir. Suas dinâmicas internas são achatadas para caberem no molde simplificante que deseja enquadrá-las para logo dar lugar à cultura européia vitoriosa que chegará. Ao final, há uma boa atividade da seção Ampliando fronteiras sobre as possibilidades de trabalho no período neolítico, ainda que também dentro de estruturas tradicionais de representação dos atividades masculinas e femininas.