sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

De que serve um professor?


Hoje foi meu último dia de trabalho como professor da Secretaria de Educação no Recanto das Emas. Cheguei lá dia 09 de fevereiro de 2009 sem nunca ter ouvido falar do Recanto das Emas, saio de lá doutor em história dessa cidade.
Durante dez anos eu circulei por essa cidade, trabalhei em três escolas, visitei tantas outras, estive na casa de moradoras que me receberam de portas abertas, contei e ouvi histórias. E dei aulas. Como eu dei aula. Desenvolvi projetos. Fui além dos limites. Acima de tudo, conheci pessoas.
Como eu conheci pessoas.
Como eu me envolvi em suas histórias. Como refleti sobre elas. Como refleti com elas. Como as vi refletirem. Como aprendi com elas. Como aprendi a ensinar com elas. Como aprendi a ensinar a aprender com elas.
Aprendi.
E ensinei.
Levo tantas em mim, tantos, sempre. Cada estudante e todas elas e eles. Eu dei aula pra quase três mil estudantes nesse período. Não lembro de todos, mas conheci cada um. Tantas Saras.. e a Sarah fazendo política... tantos Mateus.. e o Matheus sendo dj, skatista... tantos Felipes.. e o Felipe Eduardo com essa história de narguilê. Tantas. Tantos.
Tenho minha vasta coleção de biografias das avós, meus arquivos de diagnósticos. Os trabalhos dos mitos. As memórias. As histórias. A Sara, a Samara, o Abrãao, o Divino, a Lilian e a Leila, a Geovanna, o Warley, a Roberta, o Jorge, o Daniel, o Jardel, o Pedro, o Gustavo, a Brenda, a Larissa, a Ester, a Myllena, o Romário, o Luiz, o Vitor, a Maitê, a Maria Eduarda...
Nunca deixei de acreditar até quando achei que deixei. É certo, que fiz minhas escolhas, tentei respeitar as escolhas alheias sempre que pude. Estudamos suas histórias e de suas famílias juntos. Cuidei de tantos como se fossem um pedaço de mim... e são. Conversei, briguei, comemorei simplesmente porque eu me importei. Criei meu próprio mito: O mito do professor Jorge, com seu herói voluntarioso que canta mil histórias, enquanto conhece tigres e lugares distantes.
Nesse mundo cruel e nesse sistema impiedoso, eu encontrei um único jeito de transformar as coisas: se importar e oferecer ajuda. Não tem nada mais incrível que um professor possa fazer por você.
As melhores e os melhores que tive foram assim comigo (e não eram necessariamente docentes).
Não mudei ninguém.
Não melhorei nada.
Não construí nenhum monumento comemorativo do meu triunfo.
Vim, vi e segui. Mas antes dialoguei, troquei ideias, disponibilizei o que sabia, fui paciente, orientei, contei histórias.
E seguirei contando. Me importando. Ajudando. Tem dez anos de Recanto das Emas dentro de mim que não permitiriam ser diferente.
Obrigado por tudo. Somos todas e todos incríveis. Somos a mudança.

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