terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Plano de aula para o 9o ano: História e Democracia, Educação e Cidadania



Salve salve pessoal,

Esse ano eu completo 15 anos de secretaria de educação. 15 anos como professor de escola pública, realizando o sonho, semeando práticas, vivendo experiências e aprendendo ensinando, ensinado aprendendo. Mais um ano de CEF 102 Norte pela frente. Esse 2024 promete, assim como 2023 ficou marcado eternamente na minha vida de professor. Sejam mais que bem vindas para mais uma apresentação de plano de aula do 9o ano.
O ano de 2023 deixou a aprendizagem de muitos projetos de grande sucesso e meu xodó sempre é a ONHB (Olimpíada Nacional em História do Brasil). Se em 2022, 1 equipe chegou à 4a fase, em 2023 foram simplesmente 9 equipes na 4a fase, esse povo maravilhoso que aparece aí na foto (além das minhas gracinhas todas do 9D). Mesmo com a greve acontecendo na época da olimpíada, houve engajamento e uma troca de aprendizagem única na minha vida. Nunca vou esquecer dessa galerinha na melhor experiência olímpica que já tive. Esse ano tenho grandes expectativas de irmos além. Sempre rumo ao infinito e além.
Vou para o terceiro ano de trabalho na mesma escola e isso vai ter um impacto enorme na proposta de trabalho para esse ano. Fui eleito para o Conselho Escolar e estou cada vez mais envolvido com os projetos da escola, além de confiante para desenvolver meus projetos. O CEF 102 Norte é cada vez mais a minha escola e sou muito grato por poder viver isso novamente. 

Como já sinalizado acima, a proposta que apresento a seguir é de aulas para o 9o ano do ensino fundamental. 

O livro didático com que trabalharei mudou (êêêêê😍) e foi selecionado também por mim para os próximos 4 anos. História.Doc de Ronaldo Vainfas, Jorge Ferreira, Sheila Faria e Daniela Calainho. No ano passado eu já utilizei material desse livro, principalmente com o 9o ano. As atividades são muito interessantes, em especial, as de análises de documentos e fontes históricas. Há também uma proposta de condução narrativa muito interessante das histórias, que vem sempre acompanhada de biografias de sujeitos históricos, o que deixa os acontecimentos históricos mais sensíveis e compreensíveis.
O eixo estruturante do livro segue sendo tradicional, modelado pelo quadripartismo celebrativo das ideias europeias de civilização ocidental. Ainda que exista espaço no currículo para ir além disso (o que tento construir na minha prática por exemplo), os livros didáticos estão cada vez mais homogêneos e não escapam dessas matrizes conservadoras com roupagens mais ou menos "inovadoras". Sendo assim, na medida do possível, considero a melhor opção de livro, Aproveito para lembrar que sinto muita saudade de livros temáticos, como o antigo Projeto Velear que eu costumava trabalhar, mas sendo como for minha proposta e minha prática seguem sendo temáticas, fazendo o uso necessário e possível do material didático. Portanto, o livro didático é um parceiro fundamental, mas está longe de ser o centro da proposta pedagógica.

No início do ano passado, impactado pela tentativa de golpe de 8 de janeiro, estruturei um plano de aula articulado em todos os níveis a uma reflexão profunda sobre os (des)caminhos da sociedade brasileira. Sendo assim, preparei uma proposta de ensino-aprendizagem atenta ao tumultuado processo eleitoral de 2022, às tensões dos últimos anos do regime democrático no Brasil, bem como aos desgastantes anos da pandemia de COVID-19 e do governo Jair Bolsonaro. Indiquei que o ataque de terroristas aos prédios dos 3 poderes da República em 8 de janeiro de 2023 não era o ponto final do plano de aula ou um assunto referencial tão somente, mas sim o ponto de partida para (re)pensar a sociedade brasileira, a desigualdade que a marca e as condições de possibilidade de sua formação, bem como seu lugar no mundo contemporâneo. Propus um diálogo do momento com a ascensão do fascismo no período entre guerras, com o início da República após o golpe militar que encerrou o Império e outros momentos da história dos séculos XX e XXI, Se desde o início conflitos com a Guerra na Ucrânia atraíam a atenção pelo seu peso midiático, em outubro o transbordamento do conflito de Israel com os palestinos tornou-se inescapável.
Nesse sentido, sigo com esse eixo-temático aplicado ao 9o ano no ano passado: História e Democracia, Educação e Cidadania. Tendo por base a experiência de 2023, reforço que minha proposta não é apenas apresentar um olhar etapista e apaziguador da consolidação de uma sociedade global pautada pelo imperialismo do pós-Grandes Guerras. Entendo também que o volume conteudista do currículo exige que escolhas e seleções sejam feitas para potencializar o debate e a construção de um olhar crítico dos saberes históricos. Por isso, os 4 temas elencados se articulam com objetivos claros:
- Apresentar a História como um saber articulado e articulante para a compreensão dos conflitos e cooperações contemporâneos. Em um mundo de mudanças aceleradas, longe de encontrar tranquilidade através de certas histórias, minha ideia aqui é dar a ver e a ler as inquietações e questionamentos necessários para agir no mundo, onde o saber histórico é uma forma de dar sentido ao mundo e de perceber os sentidos que lhe são conferidos.
- Valorizar a Democracia como regime político, bem como historicizar sua existência enquanto ideia e enquanto prática. Explorar seus limites, mas também sua potencialidade ao longo da estruturação da sociedade brasileira, bem como em outras sociedades. ao longo dos séculos XX e XXI. Entender, portanto, que a democracia não é algo dado ou pronto e que precisamos constantemente construí-la e ampliá-la.
- Mais uma vez, como já iniciado nos anos anteriores, refletir sobre a educação como instrumento para potencializar subjetividades, o desenvolvimento da autonomia e do espírito crítico. Sob inspiração freiriana orientar as maneiras de ler o mundo e de os estudantes lerem a si mesmo. Isso articulado a uma análise atenta do processo de construção da escolarização como mecanismo de controle social e disciplinarização dos corpos como destaca Foucault.
- Formar sujeitos críticos e autônomos que entendam que a cidadania envolve direitos e deveres, ganha sentido enquanto ação e conquista. Me parece importante ressaltar que mesmo a sala de aula sendo espaço para o encantamento das amizades, para o calor dos abraços fraternos e para os limites nas relações com os outros, ela é na base de tudo isso um microcosmo para a cidadania, ela é um palco para as representações das atrizes e atores que (re)definirão as possibilidades de nossa sociedade e de nossas culturas.

Nesse ano ao reforçar alguns conceitos históricos, agora repensados, uma vez que estas estudantes foram minhas alunas e alunos ao longo do 8o ano, pretendo realizar um exercício de síntese e relativização dos conteúdos do ano anterior. A greve do ano passado teve um impacto significativo no desenvolvimento dos planejamentos de aula, assim como a experiência da realização dos teatros no último bimestre. Sendo assim, vejo como necessário um debate inicial sobre as dúvidas e questionamentos em aberto do ano anterior. Mas a ideia segue sendo preparar estudantes autônomos e participativos, conscientes e críticos das possibilidades de construção de si ao longo do ensino médio que virá, mesmo com a suspensão do Novo Ensino Médio (NEM) e a nova proposta que ainda tramita no Congresso Nacional. Seja para qual formato for, ainda acredito que a educação não é (nem nunca foi) uma prioridade real para a sociedade brasileira. Isso apenas reforça a necessidade de localizar e tensionar os objetivos políticos e econômicos do reformismo educacional. 

No 1o bimestre, além do debate sobre o encerramento do ano anterior, há um período de reapresentação, de debates sobre as experiências comuns e incomuns dos últimos tempos, sobre tantas histórias para além da sala de aula. O objetivo aqui é reavivar as conexões, realinhar discursos, traçar alguns diagnósticos, refletir sobre o espaço da escola em diferentes contextos. Isso permitirá sinalizar as possibilidades de ensino-aprendizagem para o novo ano, debater a culminância do ensino fundamental e a passagem para um "novo" (ou "novo novo" ou "sempre mais do mesmo") ensino médio, bem como discutir o cronograma e as trilhas avaliativas.
A ideia aqui é trabalhar com conteúdos que tratam da constituição de um Brasil republicano, que muda para permanecer o mesmo. Atentar para a busca por modernizar uma sociedade, inseri-la no "concerto das nações", ao mesmo tempo que manter sua estrutura socioeconômica (conflitos como os de Canudos e da Revolta da Vacina surgem aqui como exemplos profundos). Uma contradição diretamente relacionada ao mundo em que eclode a Grande Guerra Mundial, semeada pelo imperialismo e neocolonialismo. Um mundo que caminha aceleradamente para a destruição da guerra total, que oferece palco para o ódio dos fascismos e vê os ideias comunistas da Revolução Russa sucumbirem à realidade do pós-guerra. Através de cartas de soldados russos, alemães, ingleses e franceses propor a reflexão sobre o horror da guerra de trincheiras e da corrida armamentista das potências imperialistas. Acrescentarei esse ano cartas do sanitarista brasileiro Osvaldo Cruz, que escreve de Londres, após breve passagem por Paris, quando eclodiu a guerra (esta carta terá um caráter articulante dos interesses do Brasil no conflito). As cartas trazem uma dimensão muito mais profunda do limite ao qual a sociedade pretensamente humanista orientada pelos ideais iluministas estava chegando. Isso permite também um olhar atento aos riscos de um pretenso desenvolvimentismo competitivo e tóxico, orientado por uma pretensão de dominar a sociedade global contemporânea, consumindo pessoas e recursos naturais no caminho.

Objetivos de aprendizagem do Currículo em Movimento da SEDF:

•Promover no aluno o interesse pelo conhecimento histórico, desenvolvendo a capacidade de perceber a historicidade de elementos presentes em nossa sociedade.
•Promover e capacitar no educando, potencialidades para a construção de seu conhecimento.
•Caracterizar o regime republicano federalista brasileiro; apontar semelhanças e diferenças entre Monarquia e República.
•Analisar a Primeira Guerra Mundial e suas consequências para o Brasil. 
•Caracterizar a Revolução Russa e principais teorias socialistas difundidas pelo movimento operário no mundo.
•Analisar crise do capitalismo liberal, surgimento de sistemas totalitários na Europa e políticas intervencionistas na economia. 
Indicações cinematográficas: O Arraial, 1917, Nada de Novo no Fronte, Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos.

A Olimpíada de História será preparada ao longo do 1o bimestre, tendo a culminância no início do 2o bimestre com as fases semanais. Ano passado, como já mencionei, tivemos um crescimento significativo mesmo com a dificuldade extra da greve. Foram 30 equipes, das quais 9 chegaram até a 4a fase (pelo menos 3 bateram na trave de chegar até a 5a). Se no início do ano passado, minha expectativa era chegar à final, esse ano estou ainda mais confiante de atingir a meta (além de elaborar um projeto para a cooperação das diferentes olimpíada de ensino escolares com as demais disciplinas, que tratarei em outra postagem).
A preparação das equipes é a primeira trilha avaliativa, que irá compor com avaliação interdisciplinar da escola, o projeto COMVIVA, que no meu caso relaciona a história da escola com as datas comemorativas do Dia (Semana) das Mulheres. Aqui as alunas realizam tanto um simulado com questões da 2a e 3a fase do ano anterior, como a transcrição de um documento já na mesma formação das equipes que atuarão na 16a ONHB.
 
Exemplos de cartas de 2023: 7 cartas, fotos e resposta de uma
viúva japonesa (Olívia do 9A) e o diário ilustrado, em alemão
(com a tradução) de um soldado alemão (Agdah 9D)
.
A segunda trilha avaliativa será o trabalho bimestral individual, que envolve uma produção de texto orientada. Nele as estudantes são convidadas a criar uma personagem envolvida com a Grande Guerra. Cada personagem vem de um país diferente e isso repercute no trabalho em grupo do 3o bimestre. Após pensar o personagem, escrevem uma carta com suas impressões do conflito.
 
Ex. de carta de 2022: ficha de trabalho, carta de
3 pág. e resposta de enfermeira britânica presa
na Bélgica (Laura 9D)
Talvez essa tenha sido minha proposta mais exitosa em 2022, quando o trabalho foi realizado no 3o bimestre. Ano passado, com uma relação de aprendizagem maior com cada estudante houve ganhos significativos, muito embora certas particularidades do início do ano também tenham feito alguns trabalhos demorarem a ser executados. É importante destacar, que como acontece com o trabalho da avó, esse trabalho é obrigatório e pode ser corrigido quantas vezes a aluna quiser para deixá-lo mais denso e melhor pontuado. Esse ano pretendo ser mais rigoroso com os prazos para que a culminância do 3o bimestre não fique comprometida, como aconteceu em alguns poucos casos. Para quem tiver interesse em conhecer mais sobre essa proposta avaliativa, gravei um vídeo sobre ele ano passado e que está no meu canal do Youtube.
Essa trilha é obrigatória e será responsável por metade da nota desse bimestre.

A terceira trilha avaliativa será uma prova bimestral dissertativa com consulta realizada em sala.

No 2o bimestre, para acomodar melhor os conteúdos ao início da Olimpíada de História, é necessário uma ênfase maior nas especificidades da história do Brasil. Nesse sentido, tratar do pacto oligárquico da República, da sociedade excludente e das tensões do pós-Grande Guerra e da crise econômica que abrem caminho para mais um golpe militar e a Era Vargas, que começa, se prolonga e termina com intervenções militares.
Penso aqui ainda em explorar análises das expressões do fascismo e do populismo em nossa sociedade, o banditismo do cangaço, o desenvolvimento dos sindicatos, partidos políticos e outros movimentos sociais como parte dos debates. Dessa forma, os objetivos de aprendizagem e os conteúdos serão estruturados em um constante diálogo com os acontecimentos atuais para pensar noções de polarização, radicalismo, nacionalismo e civilidade. Duas personagens ganham destaque e visibilidade nesse itinerário: Lampião, para pensar a questão do cangaço, referência para os problemas atuais da violência e exclusão social; Antonieta de Barros, para pensar a participação política de grupos tradicionalmente excluídos e minoritários do ponto de vista do poder político, refletindo também sobre suas conquistas e resistências atualmente.

Objetivos de aprendizagem do Currículo em Movimento da SEDF:
•Indicar formas de resistência e organização de operários do início do século XX e da atualidade. Relacioná-las com concorrentes ideológicas do respectivo momento histórico.
•Compreender sistema de dominação oligárquica, efetivado através de coronelismo, política de governadores e política do café com leite; identificar permanências dessas práticas políticas na atualidade. 
•Apontar razões e origens de movimentos populares rurais e urbanos do período, traçando paralelo com movimentos populares da atualidade; Analisar o caráter da religiosidade popular no Brasil. (Adaptada)
•Identificar origens de novos grupos sociais essencialmente urbanos; relacionar a busca de uma identidade nacional com movimentos culturais da década de 1920; contextualizar o papel da mulher na sociedade do século XX; descrever a situação do negro na sociedade brasileira após a abolição. 
•Caracterizar em períodos do governo Vargas trabalhismo, nacionalismo e autoritarismo.
Indicações cinematográficas: Libertários, Baile Perfumado, Guerras do Brasil.doc (episódio 4), Vidas Secas.

Estudantes fazendo a ONHB em sala durante a
greve, assistindo minha live
A primeira trilha avaliativa será a 16a ONHB, realizada em grupos de 3 estudantes e pontuada de acordo com os debates e o avançar das equipes ao longo das fases. A experiência dos anos anteriores foi muito rica e acredito que pode ser ampliada e melhor organizada sem as dificuldades da greve de 2023. Houve um prêmio para as equipes que mais avançaram: um passeio pela Quadra Modelo da SQS 308.
Passeio
Equipe debatendo a prova
durante a greve
Nesse ano, a sala de aula inovadora, os tablets recém adquiridos pela escola com verba do Ministério Público e a nova rede de internet serão fundamentais para o pleno desenvolvimento das atividades propostas. A sinergia com a equipe da escola, que já entendeu a dinâmica da olimpíada também é uma contribuição fundamental.
No ano passado, quando estavam no 8o ano, as estudantes tiveram a oportunidade de fazer um "simulado" da 1a fase da ONHB 15. Eu também inclui nos dois últimos bimestres as transcrições de documentos para melhorar a preparação para a tarefa da 4a fase, que tem sido nosso ponto de corte. Isso foi uma alteração feita no planejamento, que nunca é fixo, após o resultado da 15a ONHB.
Passeio
Dessa forma, acredito que não é apenas o "vencer" as fases da ONHB, mas a trajetória de crescimento paralela a ela que merece destaque aqui. A realização da prova é a culminância de um extenso processo de ensino-aprendizagem.
Essa trilha é obrigatória e será responsável por metade da nota desse bimestre.


A segunda trilha avaliativa 
será o trabalho bimestral individual e realizado todo em sala de aula. Após as discussões sobre a Era Vargas, com destaque para reportagens de jornais da época sobre o Plano Cohen e a figura política de Getúlio Vargas, as alunas e alunos farão a transcrição de um trecho do diário do então presidente. 
Mais importante que a transcrição em si, aqui o mais importante é a reflexão sobre as narrativas públicas e privadas sobre o golpe do Estado Novo. Essa análise de documento histórico orientada irá compor com a avaliação interdisciplinar da escola (Interclasse e à valorização das atividades esportivas).

A terceira trilha avaliativa
 será uma prova bimestral dissertativa com consulta realizada em sala.

A quarta trilha avaliativa, relacionada ao projeto do Clube do Livro, será a leitura, fichamento e discussão do livro A Revolução dos Bichos de George Orwell. A ideia integrar o debate às discussões sobre Revolução Russa, Fascismos, Humanismos, Guerra Civil Espanhola e à questão ambiental. No ano passado, a própria trajetória intelectual de Orwell foi interessante para as análises em sala, mesmo para quem não leu o livro. Os debates foram excelentes.

Para o 3o bimestre, o plano é trabalhar a Segunda Guerra Mundial, a criação da ONU, a chamada Guerra Fria, as independência da África e da Ásia, ou seja, a articulação de uma ordem global ainda marcada pelas disputas imperialistas, pelas heranças coloniais e pela desigualdade gritante do mundo contemporâneo. Ano passado eu percebi que estender o trabalho da carta do 1o bimestre no trabalho individual do 3o bimestre gerou alguns trabalhos maravilhosos, mas na maioria dos casos não foi tão proveitoso quanto eu esperava. Nesse sentido, farei uma alteração na avaliação individual, bem como pretendo usar um número menor de aulas para a exposição do conflito em si. A ideia é dar mais peso e importância para a ONU Simulada, inclusive como palco para o debate dos temas a serem tratados.
A proposta continua sendo ampliar os debates para reordenar as aproximações e tensões de um mundo que parece dado, mas é sempre construído e narrado. O diálogo direto com o genocídio israelense em Gaza ganha um peso enorme para as reflexões, assim como o conflito da Guerra da Ucrânia, as tensões entre EUA e China, o retorno do Brasil aos fóruns multilaterais internacionais, os protecionismos resistentes e as pautas ambientais são todas referências inescapáveis para esse debate.

Objetivos de aprendizagem do Currículo em Movimento da SEDF:

•Compreender a Segunda Guerra Mundial, dentro do contexto de expansionismo nazista; analisar impacto e consequências desse grande conflito sob aspectos sociais, éticos e culturais; explicar o imperialismo norte- americano e suas consequências para o Brasil e América Latina. 
•Compreender o mundo pós-guerra; analisar o surgimento de novas organizações políticas mundiais no contexto conhecido como “Guerra Fria”; relacionar essas novas organizações com a bipartição de eixos políticos, seus conflitos e alinhamentos.
-Descrever impacto do avanço tecnológico e científico em relações de trabalho e de comportamento, das sociedades no período; Pensar a importância das pautas climáticas nas últimas décadas, principalmente a partir das crises do petróleo. (ADAPTADA)
•Caracterizar a queda de sistemas socialistas da Europa do Leste, relacionando com o processo de globalização.
-Analisar os aspectos relacionados ao fenômeno do terrorismo na contemporaneidade, incluindo os movimentos migratórios e os choques entre diferentes grupos e culturais.
Indicações cinematográficas: Segunda Guerra Mundial em Cores (episódio 6), Você já foi à Bahia

ONU Simulada 9B
A primeira trilha avaliativa não será formada por pequenos grupos, como no caso da ONHB, mas por toda a turma, que será uma equipe integrada de debate em uma "simulação da ONU". Em 2022 descobri que existe um amplo e integrado projeto de simulações da ONU (vinculado a um programa das próprias Nações Unidas) e ano passado li e me informei sobre a proposta. Além de ser voltado para o Ensino Médio, o projeto possui muitas nuances burocráticas e formais, que sinceramente não são o foco do meu interesse. Sendo assim, optei por aplicá-lo de forma mais livre, personalizada e orientado para as assembleias entre representantes dos países. Nesse caso, as estudantes eram representantes do mesmo país da carta da Grande Guerra do 1o bimestre.
ONU Simulada 9D
O resultado ano passado foi sensacional, ainda melhor que o de 2022, com as escolhas mostrando-se em sua maioria acertadas. Desde a reordenação do mapeamento para os debates e a cooperação para organização das assembleias até o engajamento e representação das debatedoras e debatedores, em todas as turmas tivemos experiências incríveis.
No entanto, acredito ser possível desenvolver ainda mais algumas das ideias aplicadas, bem como estender o modelo de análise e de debate das assembleias para todos os conteúdos e objetivos subsequentes ao final da Segunda Guerra Mundial. Minha maior ambição é que a partir desse ponto, as aulas passem a ser estruturadas por todas e todos como problemas para debate, para reflexão e tomada de decisões coletivas. Um laboratório de cidadania e democracia. A ideia é que não havendo mais a necessidade da produção da carta, as histórias dos diplomatas presentes na Assembleia estejam vinculadas à dos personagens das cartas de cada estudante. Além disso, o novo trabalho individual do 3o bimestre será uma possiblidade de produção escrita das reflexões a partir dos debates nas assembleias.
ONU Simulada 9A
Por isso, a metodologia ativa implementada se distancia do modelo inicial do projeto oficial da ONU, mas continua a ser uma experiência transformadora e diferenciada. Se o foco não está nos detalhes da burocracia institucional, há redobrado interesse na importância de fóruns multilaterais como espaços de diálogo e cooperação para superação de divergências e valorização da diversidade. Não só entender o momento histórico da constituição desses espaços, mas pensar o próprio mundo contemporâneo a partir desses espaços e de sua orientação de resolução de conflitos. Por isso, a sala de aula inovadora e o projeto do Grêmio Escolar / Moderadores de Conflitos estarão diretamente conectados a essa proposta.

A segunda trilha avaliativa será diferente esse ano como dito acima. A produção de texto individual nesse bimestre estará orientada pela ONU Simulada. Cada estudante terá duas opções: realizar uma análise de casos "oficiais" debatidos entre nós (Criação de Israel, Guerra da Coreia, Apartheid, Independência da Argélia, etc) ou fará uma proposta de caso do seu país a ser debatida pela assembleia da ONU. Por se tratar de uma reorientação da atividade, acho que haverá uma cooperação melhor entre as duas trilhas avaliativas. Além disso, essa trilha ira compor com a avaliação interdisciplinar da escola (Feira de Sabores e à valorização da alimentação, nutrição e manifestações culturais).



A terceira trilha avaliativa
 será uma prova bimestral dissertativa com consulta realizada em sala. Essa trilha é obrigatória e será responsável por metade da nota desse bimestre.


A quarta trilha avaliativa, relacionada ao projeto do Clube do Livro, será a leitura, fichamento e discussão do livro MAUS de Art Spielgeman. A ideia é integrar o debate às discussões sobre a Segunda Guerra Mundial, o mundo do Pós-Guerra, Memória, Negacionismo e Reparações. Ano passado, mais uma vez, os debates beiraram o sublime. 25 estudantes debateram o livro comigo, além de colegas professores que enriqueceram e muito o processo de ensino aprendizagem envolvido. É um orgulho muito grande que tenho dessa escolha por uma avaliação tão diferenciada, mas cujos resultados transcendem as possibilidades de qualquer educação formal.

O 4o bimestre é sempre mais corrido, ainda mais quando se trata de turmas de 9o ano por conta da formatura. Sendo assim, já tenho por praxe adotar uma flexibilização maior. Nesse sentido, a definição dos objetivos e dos conteúdos tende a requerer mais paciência na forma de serem trabalhados, sendo mais importante articulá-los à tudo que já foi trabalhado. 
Ano passado, minha ideia era relacionar as trilhas avaliativas de modo a otimizar o tempo para todas e todos. A figura de Carolina Maria de Jesus ganhou papel de destaque e o teatro com as turmas foi um sucesso retumbante. No entanto, assim como com as turmas de 8o ano, percebi a necessidade de antecipar a leitura do livro a ser trabalhado. Minha proposta esse ano é que nas aulas de leitura de Língua Portuguesa isso já seja encaminhado de forma interdisciplinar, permitindo mais autonomia das alunas e alunos na construção da encenação em si.
Dessa forma, terei mais tempo para cuidar da articulação com as trajetórias das avós e avôs das estudantes, que foram biografadas por elas no trabalho do 1o bimestre do ano anterior, com a construção de Brasília e da escola CEF 102 Norte. De forma articulada aos movimentos sociais e à luta das minorias, às migrações contemporâneas, ao poder do narcotráfico na América Latina (Equador e Rio de Janeiro), refletir sobre o curto período democrático pós-Vargas, a Ditadura Militar, a redemocratização e todas as tensões flagrantes que marcam a sociedade brasileira, em especial, quanto à fome, ao racismo e aos direitos das minorias a partir da Constituição Cidadã de 1988. Constituição essa tão duramente atacada nos últimos anos, mas que segue regendo os caminhos de nossa sociedade.
Importante destacar que não há trilha avaliativa obrigatória nesse bimestre.

Objetivos de aprendizagem do Currículo em Movimento da SEDF:

•Relacionar industrialização brasileira, abertura para o capital estrangeiro a partir da década de 1950, com o processo de urbanização e consequente êxodo rural; avaliar a importância da criação de Brasília, nesse contexto, como fator de desenvolvimento, urbanização e integração do Centro-Oeste do país. 
•Identificar características de governos populistas no Brasil de 1945 a 1964 e comparar com práticas políticas da atualidade; compreender a estrutura democrática do período e razões de sua queda em 1964.
•Interpretar o contexto histórico de experiências autoritárias da América Latina; analisar a instauração de regime militar no Brasil e na América Latina, calcado na supressão de direitos políticos e civis e no intervencionismo estatal na economia; identificar importância da liberdade de expressão e de garantias individuais do cidadão como fundamentos da sociedade democrática. 
•Compreender a participação de movimentos sociais no processo de redemocratização da América Latina, dando ênfase à “Nova República” brasileira com a culminância da promulgação da Constituição de 1988. 
•Identificar reivindicações de grupos minoritários; analisar a temática indígena e negra na atualidade; discutir a situação do adolescente, analisando o Estatuto da Criança e do Adolescente como regulamentador da questão.
Indicações cinematográficas: Cabra Marcado Para Morrer, Brasília Contradições de Uma Cidade Nova, Tropicália, Brasil em Constituição.

A primeira linha avaliativa
Sábado letivo temático
 será produzir uma apresentação teatral com duas inspirações importantes. O Teatro do Oprimido de Augusto Boal, pensado e repensado no contexto da ditadura militar, e o Teatro Épico de Bertold Brecht. Como dito acima, o resultado do ano passado foi maravilhoso, ainda que tenha sido corrido e muito conduzido por mim na realização. O resultado pode ser conferido em vídeo no meu canal do YouTube, além de ter tido uma culminância incrível em um sábado letivo do Dia da Consciência Negra.
Quarto de Despejo encenado pelas 4 turmas
Em minhas experiências teatrais com o 6o ano, toda a parte organizativa das apresentações sempre foi minha, mas tive certeza que com turmas de 8o e 9o ano é possível que alunas e alunos engendrem toda a prática teatral, da construção do roteiro à execução das falas. Isso pode ser potencializado com a integração com as práticas de Artes e Língua Portuguesa. Portanto, minha ideia é ampliar a proposta do ano anterior para realmente dialogar com Boal e Brecht.
9C encena a fila da água 
A ideia é construir uma peça que represente a vida de Carolina Maria de Jesus em cada uma das turmas. Já existindo a leitura do livro, estudantes irão dividir entre si as tarefas, elaborar o roteiro, selecionar o formato e realizar a apresentação em sala. O fato de já terem vivenciado o teatro do Hibisco Roxo de Chimamanda Adichie ano passado será um grande facilitador, bem como as informações e material das encenações de Quarto de Despejo do ano passado. Essa trilha irá compor com a avaliação interdisciplinar da escola (Dia da Consciência Negra e a valorização da igualdade racial e manifestações culturais afrobrasileiras).

A segunda trilha avaliativa consistirá de um trabalho individual de articulação das histórias de vida das avós realizados pelas alunas e alunos quando estavam no 8o ano. Os trabalhos antigos serão reapresentados às estudantes, que devem articulá-los à história da sociedade brasileira no período de vida daquela avó. Há um roteiro para orientação da análise, bem como uma aula expositiva em que articulo a história de meus avós paternos à história brasileira no século XX.
Ano passado, a mudança de uma trabalho coletivo em 2022 (substituído pelo teatro) para um trabalho individual tornou a atividade mais pulverizada. Ainda assim, o resultado foi satisfatório. Nesse ano, pretendo realizar uma culminância articulada ao teatro para valorizar as análises e reflexões.


A terceira trilha avaliativa
 será uma prova bimestral dissertativa com consulta realizada em casa.


A quarta trilha avaliativa, relacionada ao projeto do Clube do Livro, será a leitura, fichamento e discussão do livro Quarto de Despejo de Carolina Maria de Jesus. A ideia é integrar o debate às discussões sobre a história da sociedade brasileira em diálogo como as lutas, as resistências e as narrativas da autora, uma mulher negra que escreve tudo em seu diário. Esse é mais um livro que vai para o terceiro ano de aplicação e que teve debates magníficos ano passado. É uma leitura inescapável do âmago do Brasil na minha opinião e tem se mostrado muito eficaz em ampliar os olhares de minhas educandas e educandos.

Nesse bimestre, como indicado anteriormente, não há uma trilha que seja obrigatória. As alunas e alunos são livres para escolher e agir como acharem mais interessante.

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