segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Eduardo Coutinho, muito obrigado



Ontem fiquei abalado com a morte trágica que teve o documentarista Eduardo Coutinho. Venho aqui prestar homenagem a esse homem cujo trabalho tanto me ensinou sobre o Brasil, sobre história, sobre brasileiros, sobre comunicação. Além de ser um profundo apreciador de sua obra, sou especialmente fascinado por Cabra Marcado Para Morrer. Considero o maior documentário que já vi, uma representação viva e eloquente da história de um povo na voz de Elisabeth Teixeira e no olhar de Eduardo Coutinho. 
Esse filme é uma das maiores aulas de história que tive na minha vida. As dores e sequelas da ditadura transbordam da película. Os muitos filmes dentro do filme, a grandeza dos personagens e o talento de Coutinho para dar voz aos sujeitos normalmente alijados de olhares midiáticos. Uma narrativa instigante em sala de aula para pensar o Brasil, os conflitos, as resistências, as carências, os brasileiros.
Um momento marcante para mim, é o depoimento de Coutinho sobre o momento em que interrompe João Mariano,que fazia o papel de João Pedro na filmagem original, para resolver um problema técnico e, com isso, perdeu a solidariedade do depoente, que se retraiu. Coutinho narra como aquilo afetou seu trabalho a partir de então.
Cabra Marcado pra Morrer é um filme sensacional e único. Tem inscrito em sua própria construção a trajetória do Brasil, bem como do cinema brasileiro e daqueles que lutaram contra o sistema e os poderosos. O filme tratava em seu projeto original de contar a história de João Pedro, líder de liga camponesa, que é assassinado pelas pressões de latifundiário. Com o golpe militar de 1964, o projeto foi abortado e seus agentes lançados à clandestinidade.
Em 1981, o diretor Eduardo Coutinho recupera o projeto com o intuito de encontrar o que se dera com todos que tomaram parte dele. Momento mais interessante é o encontro com Elisabete Teixeira, viúva de João Pedro, que após 17 anos de reclusão e clandestinidade, tem novamente a oportunidade de relatar o infortúnio de seu marido. Essa narrativa é entremeada de cenas da filmagem original, tendo a oportunidade de dar a ler a opressão e desmando da elite latifundiária sobre os campesinos e posseiros.
O trecho utilizado em sala vai dos 22 min até os 40 min do filme.
Por tudo que aprendi e por tudo que posso ensinar, muito obrigado Eduardo Coutinho.


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